Em meio a críticas de clientes, concessionária condiciona mau desempenho a gatos. Cerca de 43 mil consumidores vivem em áreas de risco

Niterói ocupa a oitava posição no ranking de furtos de energia dentre os 66 municípios fluminenses atendidos pela EnelRio: 21% da luz distribuída para o município são perdidos, segundo a concessionária . E dos 230 mil clientes atendidos na cidade, cerca de 18% (43 mil) moram em áreas de risco — onde os funcionários são impedidos de fiscalizar e realizar serviços de emergência e manutenção.

Na frente de Niterói estão a líder São Gonçalo (perdas de 37%), seguida por Duque de Caxias (31%), Itaboraí (30%), Magé (26%), Araruama e Campos dos Goytacazes (24%) e Cabo Frio (23%). A Enel diz que não tem o recorte, por município, de quanto isso representa financeiramente; afirma apenas que, em todo o estado, equivale a R$ 107 milhões.

As perdas, diz Ricardo Martins, responsável pelas operações comerciais da concessionária, agravam-se à medida que cresce o número de clientes em áreas de risco, o que segundo a Enel Rio vem ocorrendo ao longo dos anos. Mas não é só isso, diz.

— Em torno de 50% dos gatos que detectamos são em localidades que não representam risco algum. São furtos e adulterações de relógios identificados em clientes industriais e residenciais das classes média e alta — pontua, acrescentando que, após 12.784 inspeções contra esse tipo de irregularidade em regiões sem risco em 2018, foram feitos 40 registros de ocorrência em delegacias.

CPI da Energia Elétrica

Ao mesmo tempo em que crescem as perdas da concessionária, aumentam as queixas acerca do serviço que ela presta. Fabiano Silveira, vice-presidente do Conselho de Consumidores da Enel Rio, esteve quinta-feira na audiência pública da CPI da Energia Elétrica promovida pelaAlerj e realizada na Câmara dos Vereadores de Niterói. Lá, ele expôs as reclamações de contribuintes e as deficiências da Enel. Silveira adianta que na próxima quarta-feira encaminhará um ofício ao Ministério Público do Estado do Rio ( MPRJ ) solicitando uma audiência para debater o tema.



— Enquanto a inflação dos últimos dois anos acumula 6,7%, a soma dos reajustes nas contas de luz da Enel foi de 28,5% no mesmo período: mais de quatro vezes superior. Se a própria Enel admite que metade dos furtos ocorre fora de áreas de risco, ela é capaz de intervir e resolver, ao menos, essa parte do problema. A verdade é que há uma ineficiência na gestão, que ficou clara nos atendimentos emergenciais nas chuvas de abril — disse o representante da classe residencial.

Silveira estava se referindo, por exemplo, ao caso de moradores de áreas de Santa Rosa e Barreto, que na ocasião ficaram mais de 40 horas sem luz. Em trechos de Icaraí, São Francisco e Charitas foram cerca de 17 horas.

Segundo o ranking de desempenho das grandes distribuidoras de energia elétrica do Brasil elaborado pela Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel ), a Enel Rio ocupa, em 2018, a 28ª posição dentre 33 empresas. A concessionária relaciona o mau desempenho ao furto de energia.

— Além de prejudicar a qualidade do fornecimento, os gatos impactam o valor ao consumidor, já que a Aneel leva em conta as perdas de cada distribuidora para calcular as tarifas. Como os custos de distribuição de energia são divididos entre os clientes, todos pagam pelo furto. Nos últimos 12 meses, a Enel Rio registrou perdas de R$ 107 milhões em todo o Estado do Rio , que não são cobertas na tarifa de energia — argumenta Martins.

O gestor não detalhou as perdas referentes apenas a Niterói, mas disse que a Enel Rio vem investindo para alcançar melhor posição no ranking nacional:

— Como resultado dos investimentos de cerca de R$ 127 milhões em Niterói e região, os indicadores de qualidade já vêm registrando avanço. Em comparação a 2017, houve melhoras de 26% no tempo médio das interrupções de energia e de 37% na média de vezes que os clientes ficam sem energia.

Fonte: O Globo Niterói